Um descapotável indiferente à chuva e ao frio
ATÉ MESMO NUMA ALTURA em que o Verão parece ter feito as malas para partir para outras bandas, com a chuva e o frio instalados para mais uma temporada, é sobretudo por causa destes últimos que este carro mantém o interesse. Porque se o sol e o bom tempo nos fazem apetecer sentir os cabelos ao vento quando recolhemos o tejadilho à zona da mala, o desencadear mais ou menos súbito de uma qualquer intempérie também não assusta: segundo o construtor, 22 segundos são suficientes para voltar a colocar a capota e fechar em simultâneo os quatro vidros. Para tanto basta pressionar um botão situado entre os bancos, acompanhar a evolução do processo no painel de bordo e... "voilá": aí temos um elegante mas nem por isso muito bonito modelo coupé.
NÃO É BONITO? Bem. Gostos não se discutem. Apesar de possuir um tejadilho em vidro para poder continuar a apreciar as estrelas ou os pingos de chuva de forma mais abrigada, não consigo gostar do resultado sobretudo quando visto a partir de um ângulo traseiro. Ainda que um jogo de cores entre a carroçaria e o conjunto articulado do tejadilho procurem atenuar o efeito "bolha" que se cria com a capota no lugar. O "mal" é generalizado a muitos carros deste tipo. Contudo reconheça-se que sem este apêndice o Renault Mégane Cabrio apresenta uma beleza intemporal que recorda alguns fantásticos descapotáveis de outrora.
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Deflector entre os encostos de cabeça e cobertura dos lugares traseiros |
DESCAPOTÁVEL. Uma das dores de cabeça que os técnicos geralmente têm quando desenvolvem uma versão cabrio é o efeito que a deslocação do vento provoca sobre a carroçaria. Em termos de estabilidade mas igualmente de conforto, nomeadamente acústico. Conduzir um descapotável é muito giro mas ninguém tem vontade de sair de um com insectos colados na cara ou a caminho da farmácia por causa de uma otite. Não há volta a dar; ou se conduz com tempo aproveitando as vistas e desfrutando da inolvidável sensação de andar de cabelos ao vento ou se fecham os quatro vidros e se faz uma figura que nem por isso é a melhor. Apesar do pequeníssimo deflector entre os apoios de cabeça traseiros ajudar a reduzir a turbulência e o comportamento do carro não sofrer muito pela acção desencontrada do vento.
ESPAÇO. Outra questão geralmente associada aos modelos Cabrio/Coupe (CC). O tejadilho e o sistema mecânico de dobragem necessitam de espaço para se recolherem e vão buscá-lo à parte traseira do habitáculo e à mala. Vamos a valores. A capacidade da bagageira varia entre os 211 e os 417 litros, neste caso menos do que a versão anterior. O espaço para os dois ocupantes traseiros é reduzido, menos ainda do que o Mégane coupé, com um assento que afunda os dois únicos passageiros para os abrigar do vento. Resulta confortável mas diminui a lotação e não sobra muito para colocar as pernas. Para quem encarar o Mégane CC como um veículo de dois ocupantes, existe na mala um acessório (dobrável) para cobrir dos lugares traseiros, gerando desse modo um espaço suplementar para bagagens e reduzindo o efeito do vento.
30 MIL EUROS. É um bom preço para um carro com estas características. Além de envolver mais tecnologia no seu fabrico, é necessariamente produzido em menores quantidades e a exclusividade paga-se. Claro que este valor é para a versão a gasolina 1.4 de 130 cv (!). Quem desejar maior economia de consumos (1.5 dCI/110 cv) terá que desembolsar mais 5 mil euros. Estas são as duas únicas motorizações disponíveis em Portugal. Outros mercados conhecem versões mais potentes, tanto com motores a gasolina como a gasóleo.
Cinjamo-nos a factos e a dados. Uma caixa manual de seis velocidades bem desmultiplicada não impediu que o consumo médio da versão ensaiada ficasse acima dos 9 litros. 130 cv são possíveis de atingir graças à sobrealimentação e a uma gestão bastante eficaz da alimentação, assegurando que um bloco de somente 1,4 litros consiga alcançar um binário elevado (190 Nm/2250 Nm) e
proporcionar valores de aceleração acima do esperado. É que esta versão do Mégane ganhou peso com o tejadilho em vidro (cerca de mais 100 kg) e, por causa disso, teve que endurecer a suspensão. Não se perdeu muito em conforto, ganhando-se, em contrapartida, a eficácia necessária em face de valores diferentes de rigidez torsional do conjunto. É um carro fácil de conduzir contando com as habituais ajudas fornecidas pelo construtor francês: "cartão mãos livres", travão de mão automático e a versão diesel conta ainda a possibilidade de uma caixa de velocidades automática sequencial, um equipamento que analisaremos em breve numa outra versão.
PREÇO, desde 29500 euros (s/D.A. e T.) MOTOR, 1397 cc, 130 cv às 5500 rpm., 190 Nm às 2250 rpm, 16 V., turbo com função overpower CONSUMOS, 10/5,8/7,3 l (cidade/estrada/combinado) EMISSÕES CO2, 169 g/km