Mais presença do que atitude
UM GRUPO de jornalistas de todo o Mundo (conjunto do qual, curiosamente - ou talvez não... - não faz parte nenhum português), distinguiu este
Mazda 2 como carro do Ano em 2008 e um dos finalistas da edição deste ano é o
Ford Fiesta, modelo similar ao
2 e resultado de um desenvolvimento comum levado a cabo pelas duas marcas.
Os prémios podem ter um valor simbólico - ou não.. - e serem de uma grande utilidade em termos publicitários, mas a realidade é que este utilitário japonês pode gabar-se de ser um dos mais simpáticos, divertidos e bem construídos que actualmente existem na sua classe. Se a isso juntarmos a boa reputação de fiabilidade que a Mazda possui, estão reunidas (quase todas as) condições para entender as razões da sua boa aceitação no mercado europeu.
A NOVA GERAÇÃO representa um corte radical com a anterior em termos de conceito; é não apenas mais curta como mais leve, com um incremento na largura que beneficia ligeiramente os ocupantes do banco traseiro. Os primeiros dois factores, aliados a uma silhueta de linhas mais fluídas, tiveram intenção de baixar os consumos e, logo, permitir uma redução das emissões poluentes, explicando porque um modelo com as características do agora ensaiado, apresenta valores tão simpáticos em ambos os casos.
A ocasião serviu também para analisar a versão de três portas, já que os ensaios anteriores -
1.3 a gasolina de 86 cv e
1.4 diesel com 68 cv -, se referiam a modelos de 5 portas , bem como para falar de pequenas alterações estéticas recentemente introduzidas.
A diferença prática entre as duas formas de carroçaria é, logicamente, a que deriva do número de portas. Neste, as dianteiras são mais largas, os vidros traseiros mais pequenos e, para além de uma maior sensação de claustrofobia nos lugares anteriores, existe o incongruente incómodo dos bancos dianteiros não retornarem à posição original após permitirem o acesso, sendo que o do condutor tem ainda essa funcionalidade ainda mais limitada.
É CLARAMENTE um pequeno utilitário pouco vocacionado para uso mais familiar, mesmo que limitado. Não tanto pelo espaço - embora não seja avantajado até é bem aproveitado face às dimensões exteriores -, antes pelo que atrás afirmei. Nesse campo, o 5 portas distancia-se claramente o que não deixa de ser perfeitamente natural.
Já quanto à capacidade da mala, 250 l, é escassa mas bem esquadrada, face a um banco traseiro fixo e apenas com os rebatimentos habituais. Nos tempos que correm, um pneu suplente, mesmo que fino e meramente temporário, começa a ser quase um luxo face à proliferação de kits de emergência que socorrem apenas pequenos furos. O ganho obtido na profundidade da mala é aproveitado para uma caixa com divisórias e tampa, que não apenas coloca a plataforma de carga ao nível da abertura, como proporciona pequenos espaços longe de olhares indiscretos.
APESAR do
Mazda 2 ser baixo e de aparência extremamente desportiva - como convém-, a altura interior não é um grande obstáculo para ocupantes medianos. Atrás comporta perfeitamente dois adultos ou, sem grandes óbices, três crianças.
A posição de condução aproxima-se - e no caso específico é o que se deseja – da de um pequeno desportivo, com um banco envolvente e com apoio correcto do corpo. É o espírito dinâmico zoom-zoom a revelar-se na rápida adaptação do «piloto» ao veículo e que se prolonga pelo que vê. Neste aspecto, ainda que funcional, o desenho simples do tablier e um contraste de cores algo pobre, deixa algo a desejar. As alterações no modelo de 2009 vieram reforçar principalmente o aspecto das versões com acabamento mais desportivo, com um fundo dos instrumentos mais «
racing». Eu diria também que amadureceu, e se a qualidade dos materiais não destoa na classe e os acabamentos se revelam cuidados, mais uma vez falando desta versão específica, sente-se a falta de um manómetro de temperatura do motor, substituído, a exemplo das versões mais simples, por um indicador luminoso azul que se mantém ligado enquanto não é atingida a temperatura adequada.
ÁGIL COMO CONVÉM e as dimensões o permitem, a plataforma do
Mazda 2 comporta-se de forma neutra. Não chega para entusiasmar, mas também não desilude. Mesmo quando se o provoca, uma suspensão bastante equilibrada e um bom conjunto pneumático facilmente o fazem voltar a bom porto. Tem uma silhueta com bom coeficiente de penetração (além de ainda mais bonita o modelo desportivo deste ano traz luzes independentes) que o torna quase imune à acção de ventos opostos e ajuda a garantir a estabilidade em velocidades elevadas.
Em termos de comportamento, o desempenho equilibrado e os controlos ambientais parecem ter castrado o conjunto. Esperava um pouco mais de empenho e maiores diferenças em relação ao 1.3. Ainda que mais desportivo a curvar, por exemplo, isso deve-se às alterações sobre a suspensão e aos pneus. A acelerar e em recta, a diferença mais visível está nas recuperações; é claramente mais lesto, mercê do natural acréscimo de binário e de um desempenho mais «redondo». Com um manuseamento muito preciso e bastante rápido, o escalonamento das relações da caixa favorecem claramente os consumos, controlando o ímpeto de um conjunto que parece ser capaz de mais do que lhe é permitido.
Por culpa disso e como nota sempre agradável de registar, apresenta realmente consumos que não destoam muito da versão menos potente. Aqui reside uma das grandes vantagens desta versão, já que as emissões poluentes que anuncia são significativamente inferiores à maioria dos seus pares.
PREÇO, desde 18 043 euros
MOTOR, 1498 cc, 103 cv às 6000 rpm, 16 V., 137 Nm às 4000 rpm
CONSUMOS, 7,6/4,7/5,7 l (cidade/estrada/misto) EMISSÕES CO2, 135 g/km