A Volvo é, para os poucos que ainda não o sabem ou estão distraídos, uma marca sueca. Depois de uma passagem pelas mãos da Ford, em 2010, a construtora americana vendeu a divisão automóvel à chinesa Geely. E ainda recentemente foi a vez da Renault vender uma participação residual que ainda detinha na companhia. Mas desde logo, o grupo chinês prometeu investir na manutenção do ADN da marca, de resto, o objecto principal da sua aquisição. A Geely, que começou a fabricar carros em 1986, pretende utilizar o prestígio da marca para produzir carros de luxo na China, mantendo as operações na Europa para abastecer o mercado internacional. Prova disso mesmo, o recente anúncio de um forte investimento na concretização de projectos na Suécia. E que projectos são esses? É o que contamos já a seguir. (PROSSEGUIR PARA A LEITURA COMPLETA SOBRE O INVESTIMENTO DA VOLVO NA SUÉCIA)
No mundo actual, dois anos talvez seja muito tempo de vida de um automóvel sem mudar nada, ou mudando muito pouco. Contudo um conjunto de características mantém válido o mais pequeno (e acessível) coupé da marca sueca. Lançado no mercado em 2006, a Volvo renovou-o em 2010. E apesar do design expressivo que já tinha, esse refrescar da imagem alinhou-o com o estilo dos modelos mais recentes
Em relação ao ensaio publicado
AQUI, além de algumas alterações mecânicas, poucas mais modificações se registaram no Volvo C30. Ainda assim, por vezes convém lembrar a existência de automóveis diferentes, com os quais é difícil passar despercebido.
Mesmo quando eles já não são novidade ou transportam na chapa uma daquelas marcas que inspiram status, classe ou competição.
Não que um Volvo seja um carro qualquer. Ou proveniente de um construtor sem história. Pelo contrário, a Volvo comemora em Abril 85 anos e o prestígio, mas, sobretudo, a aposta permanente na segurança, continuam a ser valores intrínsecos desta marca nascida no norte da Europa.
Laranja mecânicaSe uma das razões da sua menor discrição parece residir no flamejante laranja metalizado que passou a fazer parte da nova palete de cores após a renovação, fazendo realçar uma silhueta já de si fora do habitual do carro, a verdade é que essa pintura também contribui para destacar os subtis apêndices desportivos do C30.
Apesar de se tratar de um coupé – e de um carro assim espera-se sempre algum desportivismo -, as preocupações da versão mais apetecível para o mercado português são, sobretudo, com o consumo e com o controlo das emissões poluentes.
Embora também esteja disponível com motores de 2.0 l/177 cv (diesel) ou 2,5l/230 cv (gasolina), um dos trunfos actuais do Volvo C30 reside exactamente no motor diesel 1.6 de 115 cv e na sigla “DRIVe” estampada na porta traseira.
Com um preço que principia nos 28 mil euros, esta versão foi homologada com emissões de 99 gr/km de CO2 e um consumo médio anunciado de 3,8 litros. Na verdade, apesar da eficácia e da rapidez do sistema start/stop e do escalonamento da caixa de seis velocidades, o consumo médio, obtido após o ensaio, superou em 2,0 litros esse valor.
No cômputo geral, o C30 é um carro agradável de guiar, tem uma direcção leve e participativa e mostra-se ágil o suficiente para garantir uma condução urbana descontraída. Mas esta versão só não coloca de lado algum apelo desportivo que a estética parece invocar, porque a “suspensão desportiva rebaixada” da versão ensaiada (+ €440) se mostra capaz de garantir bons resultados em termos de estabilidade (controlo electrónico de série), embora penalize no campo do conforto.
Traseira nostálgicaDuas avantajadas portas facilitam o acesso aos lugares traseiros, através de bancos que não dispõem de memória e obrigam a novos ajustes após o rebatimento do encosto. Atrás, nem o espaço ao dispor dos dois ocupantes, nem o da mala, podem considerar-se generosos. A bagageira, principalmente, tem uma capacidade algo reduzida - 251 l – e a chapeleira apresenta uma forma de abertura pouco usual. Mas existe pneu suplente.
O interior é confortável como um Volvo sabe ser e a sensação de qualidade está presente de uma forma natural. O C30 partilha muitos componentes com os modelos da gama seguinte, equivalendo-se à versão mais curta do S40.
Embora não seja tão evidente como o Beetle da VW ou o Mini actual, o abrupto “corte” traseiro que redundou na forma peculiar da porta de acesso à mala é uma recriação moderna de um modelo clássico do construtor dos anos 70: o Volvo 1800ES.
A Volvo Cars, actualmente detida pelo grupo chinês Geely, procura entretanto uma nova parceria para o desenvolvimento do substituto do C30. O modelo actual resulta da anterior ligação da Volvo à Ford e, tal como o S40, é baseado na geração anterior do Focus.
Dados mais importantes |
Preço (euros): | 28000 (DRIVe) |
Motores | 1560 cc, 115 cv às 3600 rpm, 270 Nm das 1750 às 2500 rpm, common rail, turbo com geometria variável |
Prestações | 193 km/h, 11,3 seg. |
Consumos (médio/estrada/cidade) | 3,8 / 3,5 / 4,3 litros |
Emissões Poluentes (CO2) | 99 gr/km |
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Um Volvo é… um Volvo! A verdade é que a afirmação soa algo redundante. Do mesmo modo pode parecer demasiado óbvio afirmar que quem adquire um carro deste segmento - e por este preço - espera (deseja) encontrar qualidade a todos os níveis. E classe. E prestígio. Ou pelo menos um automóvel capaz de os transmitir. Embora este texto tenda a começar repleto de lugares comuns e conclusões óbvias, perante a aquisição da Volvo por parte de uma construtora chinesa de automóveis, torna-se lógico perguntar até que ponto isso poderá afectar a sua imagem nos mercados ocidentais.
Apesar de 45 mil euros até nem parecerem muito para um carro deste nível e deste segmento no mercado português, mais a mais repleto de equipamento, a realidade é que, nesta categoria, jogam factores de prestígio e imagem de que muito poucas marcas conseguem orgulhar-se de ter atingindo num patamar tão exigente.
A Volvo pertence a esse grupo restrito, cimentado por muitos anos de qualidade, distinção, sobriedade e segurança. Ao longo do tempo construiu uma imagem de marca sólida, oscilando entre criações mais sóbrias e outras com um carácter jovem e mais arrojado. Mesmo depois da Volvo Cars (porque a “Volvo” também produz camiões, autocarros, equipamento marítimo e aeronáutico e desenvolve actividades nas áreas financeiras e construção, por exemplo) “perder” parte da sua autonomia e passar a fazer parte do grupo Ford, a marca sueca manteve produtos diferenciados, pese embora a inevitável partilha de componentes, principalmente mecânicos.
Até que, em 2010, o gigante americano anunciou a sua venda ao fabricante de automóveis chinês Zhejiang Geely.
Que ameaça?Embora esta nova realidade possa levar muitos consumidores a encararem com pessimismo o futuro dos automóveis Volvo, como constatei ao longo dos dias do ensaio ao Volvo S80, a realidade é aparentemente muito mais simples e benéfica para o construtor sueco: os chineses dispõem do capital necessário para viabilizarem a sua continuidade, e ninguém com bom senso está a ver um investidor desperdiçar dinheiro a arruinar uma marca de prestígio produzindo maus produtos. Bem pelo contrário; os chineses já fabricam veículos e só não entraram em força no mercado ocidental em força – como os japoneses e coreanos já o fizeram – porque não dispõem ainda de carros que ofereçam qualidade e segurança capazes de satisfazer os exigentes padrões europeus. Para além de muitos deles também não respeitarem as actuais normas ambientais.
Assim se entende o facto de, um ano depois, a administração da Volvo e da Geely anunciarem um ambicioso plano que implica avultados investimentos e contratação de novos colaboradores, redefinindo estratégias de mercado e propondo tornar a marca sueca num fabricante de automóveis verdadeiramente luxuosos. O objectivo é não apenas conseguir uma maior penetração nos mercados europeus e americano, como também concorrer com nomes sonantes e de prestígio como a BMW ou a Mercedes nos ditos mercados emergentes, China naturalmente incluída, onde instalará uma nova actividade produtiva.
Berlina de topoAté isso acontecer, o Volvo S80 é a berlina de luxo, o topo-de-gama da Volvo na Europa, disputando espaço e mercado com modelos como o Mercedes Classe E, por exemplo. O que, como se depreende, não é tarefa fácil.
Para começar, voltando à parte inicial deste texto, valores a partir de 45 mil euros para uma unidade diesel desembaraçada e competente, contudo económica (é preciso não esquecer que, com quase cinco metros, o S80 pesa mais de 1600 kg), com bastante equipamento e uma qualidade de construção elevada, fazem dele um modelo aliciante para fins particulares mas também executivos.
E o que tem o S80 a mais para oferecer face aos seus rivais? Comecemos pelas contrariedades.
Boa relação qualidade/preçoO Volvo S80 é, na essência, um modelo surgido em 2006. Actualizações estéticas posteriores têm permitido rejuvenescer uma linha que, apesar de distinta, acusa o peso da idade. É verdade que neste segmento a sobriedade ainda é um trunfo e nesse aspecto o S80 está mais do que actual. Aliás: impõe classe, impõe estilo e impõe, principalmente, respeito à sua passagem. Para tal conta com o tamanho e um ar meio discreto, mas também com o facto de respirar qualidade. Que verdadeiramente se “respira” porque os estofos são de couro e as aplicações podem ser em madeira, ou em alumínio, caso se pretenda um aspecto mais dinâmico. Mas também se “respira” quando se toca nos revestimentos suaves e se descobrem plásticos de boa qualidade, alcatifas volumosas e bancos que sabem envolver o corpo.
O que quase desculpa o facto de, apesar do seu tamanho, o S80 não ser um carro tão amplo quanto seria de supor. Atrás fica aquém de muitos familiares de segmento inferior e até mesmo na capacidade da mala, inferior a 500 litros. A boca da mala é estreita, mas o sistema de articulação da tampa da mala dispensa as intrusivas dobradiças em arco. Não existe pneu suplente, apenas “kit” anti-furo.
Funções executivasRealmente, apesar de todas as potencialidades familiares, o S80 não o consegue ser na plenitude. Claro que desempenhará sem dificuldade esse papel, embora se mostre bastante mais à vontade para fins executivos, ou outras que não revelem demasiadas exigências de espaço.
A suspensão da versão ensaiada mostrou-se eficaz a absorver as irregularidades, sem que esse conforto tivesse beliscado o desempenho dinâmico da unidade. O S80 D3 descreve curvas com a segurança e a versatilidade esperadas face ao seu tamanho, adornando ligeiramente, embora sem intimidar o condutor. É que apesar dos 163 cv revelarem resposta rápida, beneficiando do bom escalonamento da caixa de seis velocidades, esta não é a unidade desportiva desta versão. A função fica reservada para o nível de equipamento “R-Design” (mais cerca de 750 euros), com chassis rebaixado.
No interior está tudo à mão do condutor e sugere funcionamento quase intuitivo. Clássico e sóbrio como convém, o tablier foi uma das partes que beneficiou do rejuvenescimento, não só com o fito de o modernizar, como de permitir a introdução de mais algum equipamento. De igual modo, o volante surge agora com um aspecto mais desportivo.
Que motor!A questão fulcral que se coloca num modelo deste segmento, e com estas responsabilidades, é qual será a motorização a partir do qual o conjunto poderá mostrar-se competente e, simultaneamente, por via da cilindrada, capaz de manter um preço competitivo em mercados como o nosso.
É que em alguns países o motor de entrada na gama é apenas o D5 2.4 com 205 cv, que em Portugal custa quase 60 mil euros...
A denominada versão D3 utiliza uma unidade motriz presente noutros modelos da marca, nomeadamente no novíssimo S/V60 (ver
AQUI). Trata-se de um motor com 5 cilindros, derivado exactamente do D5 acima referido. Esse facto garante-lhe um funcionamento menos esforçado, com binário a chegar logo às 1400 rpm. No final do ensaio o computador de bordo assinalava uns surpreendentes 5,5 litros, realizados durante uma condução completamente mista, embora propositadamente defensiva.
Qualquer das versões pode ser enriquecida pelos habituais equipamentos de segurança – avisos para a presença de obstáculos no ângulo morto dos respectivos espelhos, sinais sonoros da transposição involuntária das linhas do pavimento ou indicadores visuais da aproximação ao veículo da frente -, alguns disponibilizados de série mas outros inseridos em “packs” específicos, consoante as versões.
Dados mais importantes |
Preços desde | 44500 euros |
Motor | 1984 cc, 5 cil/20 V, 163 cv às 2900rpm, 400 Nm das 1400 às 2850 rpm, common rail, turbo, geometria variável, intercooler |
Prestações | 215 km/h, 9,7 seg. (0/100 km/h) |
Consumos (médio/estrada/cidade) | 5,3 / 4,3 / 7,1 litros |
Emissões Poluentes (CO2) | 139 gr/km |
Este é um dos primeiros resultados da ligação chinesa à sueca Volvo. O S80L é uma versão especificamente direccionada ao mercado chinês, ligeiramente maior (+ 14 cm) do que a versão europeia, ricamente equipado e dotado de uma motorização com 6 cilindros, de 3.0l e 285 cv. O objectivo é, claro, conquistar a crescente elite deste mercado emergente, mas também servir frotas governamentais. Não dispensa todos os acessórios de segurança possível e oferece níveis de garantia e assistência até agora pouco comuns na China.
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