O Mercedes Classe E mede quase 5 metros de comprimento por 1,85 m de largura. Apesar destas dimensões é um carro particularmente fácil de dirigir, com boa capacidade de manobra e capaz de proporcionar grande visibilidade. No seu segmento coexistem modelos mais familiares e viaturas maioritariamente executivas ou destinadas a frotas governamentais. Trata-se de uma classe particularmente exigente onde coexistem modelos tradicionalmente mais jovens e desportivos, como o Audi A6 ou a série 5 da BMW, e outros, notoriamente para um consumidor de perfil mais conservador, como é o caso do Volvo S80 (ver AQUI).Algures neste meio termo posiciona-se o Mercedes Classe E, embora pendendo, por tradição, para o lado mais conservador. Tanto assim que uma silhueta inconfundível o liga de imediato às criações da marca de Stuttgart, mesmo se com um traço mais ligeiro e dinâmico do que o seu antecessor. Interiormente o E é “todo” ele Mercedes: materiais nobres, revestimentos em pele de qualidade e o inevitável toque da madeira a dividir a parte superior da inferior do tablier. As linhas clássicas são acompanhadas no género por alguns instrumentos, como o grande relógio analógico no painel de instrumentos ou o sistema de som instalado de série, cujo rádio, para além do habitual FM, possui sintonia de ondas curtas, médias e longas. Mas tanto o restante design como a iluminação conciliam classe e modernidade, sem grandes alaridos.
Cómodo e espaçoso
Quem, de modo bastante confortável, se senta atrás do volante irá ver a típica estrela distintiva da marca, na extremidade do capot, e pode igualmente contar com uma boa visibilidade no que respeita aos ângulos dianteiros da viatura. Na direcção dianteira como nas manobras traseiras pode contar-se com o auxilio de sensores com indicação visual e sonora.
Espaçoso mas não exactamente familiar, o Classe E da Mercedes é bastante mais indicado para dois ocupantes traseiros. Existe mesmo a possibilidade de escolher uma forma de assento traseiro apenas destinado a dois passageiros. Com uma postura baixa, mas confortáveis, não existem então quaisquer constrangimentos de espaço.
A mala é ampla, 540 litros de capacidade. Alberga um pneu mais fino e, como seria de esperar, revestida com alcatifas convincentes. Mas não gostei do sistema de dobradiças em arco apesar destas dificilmente porem em causa a integridade da bagagem.
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O inédito tejadilho panorâmico, interiormente dividido em 2 secções e com uma simples tela protectora, é opcional. |
Atitude correcta
Uma coluna da direcção que acompanha correctamente qualquer afinação do banco do condutor e a caixa de velocidades automática são a combinação ideal quando se deseja um andamento mais tranquilo e descontraído, mas acompanha sem dificuldade qualquer postura mais enérgica quando a tentação é andar depressa.
O motor que equipa a versão ensaiada, apesar da pomposa designação 250 CGI, é um bloco 1.8 sobrealimentado e com intercooler, que lhe fazem disparar a potência para os 204 cv. Apesar da caixa automática de 7 velocidades, nem se pode dizer que o consumo médio de 10 litros, registado no final do ensaio, fosse particularmente exagerado. Até porque todo o conjunto tem um peso, em vazio, superior a 1650 kg. Esta caixa pode ser conduzida em modo sequencial de 4 e possui afinação para um tipo de condução mais familiar ou mais desportiva. O equipamento de série contempla patilhas no volante para selecção da caixa de velocidade.
O controlo de emissões decorrentes do sistema "BlueEFFICIENCY" (*) e o facto de, em Portugal, parte da carga fiscal incidir sobre a cilindrada, torna possível aceder a um Classe E, com estas extraordinárias capacidades dinâmicas, por menos de 55 mil euros. Mas é igualmente por responsabilidade da conjugação de funcionamento deste motor com um turbo de geometria variável, que torna possível conduzir um carro a gasolina com a sensação de estarem presentes duas (boas) características geralmente encontradas num a gasóleo: uma entrega cedo do binário e uma elasticidade que se mantém durante tempo suficiente para recuperar velocidade, sem trabalho esforçado da caixa de velocidades. O que, naturalmente, acaba por ter reflexo nos consumos.
Dados mais importantes |
Preços desde | 53.216 euros |
Motor | 1796 cc, 4 cil/16 V, 204 cv às 5500rpm, 300 Nm das 2000 às 4500 rpm, injecção directa, turbo, geometria variável, intercooler |
Prestações | 238 km/h, 7,8 seg. (0/100 km/h) |
Consumos (médio/estrada/cidade) | 8,0 / 6,4 / 10,6 litros |
Emissões Poluentes (CO2) | |
(*) O Mercedes E 250 CGI BlueEFFICIENCY integra de série um conjunto de características com vista à redução de emissões de gases poluentes sem sacrifício das prestações do carro. A função "start & stop" pode ser instalada sem custos adicionais, mas aquilo que o sistema BlueEFFICIENCY propõe é uma aerodinâmica mais cuidada (com rebaixamento ligeiro do chassis e "spoilers" que resultam num dos melhores coeficientes de penetração ao vento), combinada com a menor resistência ao rolamento através de equipamento pneumático especifico. Existe ainda uma gestão aprimorada da energia fornecida pelo motor, um conjunto de alterações que, sem por em causa a fiabilidade do produto ou a segurança do comportamento, garantiu a homologação de emissões que conferem vantagens fiscais em diversos mercados.
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Um Volvo é… um Volvo! A verdade é que a afirmação soa algo redundante. Do mesmo modo pode parecer demasiado óbvio afirmar que quem adquire um carro deste segmento - e por este preço - espera (deseja) encontrar qualidade a todos os níveis. E classe. E prestígio. Ou pelo menos um automóvel capaz de os transmitir. Embora este texto tenda a começar repleto de lugares comuns e conclusões óbvias, perante a aquisição da Volvo por parte de uma construtora chinesa de automóveis, torna-se lógico perguntar até que ponto isso poderá afectar a sua imagem nos mercados ocidentais.
Apesar de 45 mil euros até nem parecerem muito para um carro deste nível e deste segmento no mercado português, mais a mais repleto de equipamento, a realidade é que, nesta categoria, jogam factores de prestígio e imagem de que muito poucas marcas conseguem orgulhar-se de ter atingindo num patamar tão exigente.
A Volvo pertence a esse grupo restrito, cimentado por muitos anos de qualidade, distinção, sobriedade e segurança. Ao longo do tempo construiu uma imagem de marca sólida, oscilando entre criações mais sóbrias e outras com um carácter jovem e mais arrojado. Mesmo depois da Volvo Cars (porque a “Volvo” também produz camiões, autocarros, equipamento marítimo e aeronáutico e desenvolve actividades nas áreas financeiras e construção, por exemplo) “perder” parte da sua autonomia e passar a fazer parte do grupo Ford, a marca sueca manteve produtos diferenciados, pese embora a inevitável partilha de componentes, principalmente mecânicos.
Até que, em 2010, o gigante americano anunciou a sua venda ao fabricante de automóveis chinês Zhejiang Geely.
Que ameaça?Embora esta nova realidade possa levar muitos consumidores a encararem com pessimismo o futuro dos automóveis Volvo, como constatei ao longo dos dias do ensaio ao Volvo S80, a realidade é aparentemente muito mais simples e benéfica para o construtor sueco: os chineses dispõem do capital necessário para viabilizarem a sua continuidade, e ninguém com bom senso está a ver um investidor desperdiçar dinheiro a arruinar uma marca de prestígio produzindo maus produtos. Bem pelo contrário; os chineses já fabricam veículos e só não entraram em força no mercado ocidental em força – como os japoneses e coreanos já o fizeram – porque não dispõem ainda de carros que ofereçam qualidade e segurança capazes de satisfazer os exigentes padrões europeus. Para além de muitos deles também não respeitarem as actuais normas ambientais.
Assim se entende o facto de, um ano depois, a administração da Volvo e da Geely anunciarem um ambicioso plano que implica avultados investimentos e contratação de novos colaboradores, redefinindo estratégias de mercado e propondo tornar a marca sueca num fabricante de automóveis verdadeiramente luxuosos. O objectivo é não apenas conseguir uma maior penetração nos mercados europeus e americano, como também concorrer com nomes sonantes e de prestígio como a BMW ou a Mercedes nos ditos mercados emergentes, China naturalmente incluída, onde instalará uma nova actividade produtiva.
Berlina de topoAté isso acontecer, o Volvo S80 é a berlina de luxo, o topo-de-gama da Volvo na Europa, disputando espaço e mercado com modelos como o Mercedes Classe E, por exemplo. O que, como se depreende, não é tarefa fácil.
Para começar, voltando à parte inicial deste texto, valores a partir de 45 mil euros para uma unidade diesel desembaraçada e competente, contudo económica (é preciso não esquecer que, com quase cinco metros, o S80 pesa mais de 1600 kg), com bastante equipamento e uma qualidade de construção elevada, fazem dele um modelo aliciante para fins particulares mas também executivos.
E o que tem o S80 a mais para oferecer face aos seus rivais? Comecemos pelas contrariedades.
Boa relação qualidade/preçoO Volvo S80 é, na essência, um modelo surgido em 2006. Actualizações estéticas posteriores têm permitido rejuvenescer uma linha que, apesar de distinta, acusa o peso da idade. É verdade que neste segmento a sobriedade ainda é um trunfo e nesse aspecto o S80 está mais do que actual. Aliás: impõe classe, impõe estilo e impõe, principalmente, respeito à sua passagem. Para tal conta com o tamanho e um ar meio discreto, mas também com o facto de respirar qualidade. Que verdadeiramente se “respira” porque os estofos são de couro e as aplicações podem ser em madeira, ou em alumínio, caso se pretenda um aspecto mais dinâmico. Mas também se “respira” quando se toca nos revestimentos suaves e se descobrem plásticos de boa qualidade, alcatifas volumosas e bancos que sabem envolver o corpo.
O que quase desculpa o facto de, apesar do seu tamanho, o S80 não ser um carro tão amplo quanto seria de supor. Atrás fica aquém de muitos familiares de segmento inferior e até mesmo na capacidade da mala, inferior a 500 litros. A boca da mala é estreita, mas o sistema de articulação da tampa da mala dispensa as intrusivas dobradiças em arco. Não existe pneu suplente, apenas “kit” anti-furo.
Funções executivasRealmente, apesar de todas as potencialidades familiares, o S80 não o consegue ser na plenitude. Claro que desempenhará sem dificuldade esse papel, embora se mostre bastante mais à vontade para fins executivos, ou outras que não revelem demasiadas exigências de espaço.
A suspensão da versão ensaiada mostrou-se eficaz a absorver as irregularidades, sem que esse conforto tivesse beliscado o desempenho dinâmico da unidade. O S80 D3 descreve curvas com a segurança e a versatilidade esperadas face ao seu tamanho, adornando ligeiramente, embora sem intimidar o condutor. É que apesar dos 163 cv revelarem resposta rápida, beneficiando do bom escalonamento da caixa de seis velocidades, esta não é a unidade desportiva desta versão. A função fica reservada para o nível de equipamento “R-Design” (mais cerca de 750 euros), com chassis rebaixado.
No interior está tudo à mão do condutor e sugere funcionamento quase intuitivo. Clássico e sóbrio como convém, o tablier foi uma das partes que beneficiou do rejuvenescimento, não só com o fito de o modernizar, como de permitir a introdução de mais algum equipamento. De igual modo, o volante surge agora com um aspecto mais desportivo.
Que motor!A questão fulcral que se coloca num modelo deste segmento, e com estas responsabilidades, é qual será a motorização a partir do qual o conjunto poderá mostrar-se competente e, simultaneamente, por via da cilindrada, capaz de manter um preço competitivo em mercados como o nosso.
É que em alguns países o motor de entrada na gama é apenas o D5 2.4 com 205 cv, que em Portugal custa quase 60 mil euros...
A denominada versão D3 utiliza uma unidade motriz presente noutros modelos da marca, nomeadamente no novíssimo S/V60 (ver
AQUI). Trata-se de um motor com 5 cilindros, derivado exactamente do D5 acima referido. Esse facto garante-lhe um funcionamento menos esforçado, com binário a chegar logo às 1400 rpm. No final do ensaio o computador de bordo assinalava uns surpreendentes 5,5 litros, realizados durante uma condução completamente mista, embora propositadamente defensiva.
Qualquer das versões pode ser enriquecida pelos habituais equipamentos de segurança – avisos para a presença de obstáculos no ângulo morto dos respectivos espelhos, sinais sonoros da transposição involuntária das linhas do pavimento ou indicadores visuais da aproximação ao veículo da frente -, alguns disponibilizados de série mas outros inseridos em “packs” específicos, consoante as versões.
Dados mais importantes |
Preços desde | 44500 euros |
Motor | 1984 cc, 5 cil/20 V, 163 cv às 2900rpm, 400 Nm das 1400 às 2850 rpm, common rail, turbo, geometria variável, intercooler |
Prestações | 215 km/h, 9,7 seg. (0/100 km/h) |
Consumos (médio/estrada/cidade) | 5,3 / 4,3 / 7,1 litros |
Emissões Poluentes (CO2) | 139 gr/km |
Este é um dos primeiros resultados da ligação chinesa à sueca Volvo. O S80L é uma versão especificamente direccionada ao mercado chinês, ligeiramente maior (+ 14 cm) do que a versão europeia, ricamente equipado e dotado de uma motorização com 6 cilindros, de 3.0l e 285 cv. O objectivo é, claro, conquistar a crescente elite deste mercado emergente, mas também servir frotas governamentais. Não dispensa todos os acessórios de segurança possível e oferece níveis de garantia e assistência até agora pouco comuns na China.
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